domingo, março 28, 2010

Do extinto... outro momento... outro volume... mesmo autor...

28/12/2004 21:09

Releituras...
Ontem reli um conto do Neil Gaiman, intitulado O Presente de Casamento... inicialmente consistia na idéia de presentear amigos com um conto...mas na verdade ele opta por presentear com outra coisa, creio que uma torradeira...mas então surge a idéia de usar o conto “nunca escrito” na introdução de um outro livro de contos (Fumaça e Espelhos)... como tudo o mais, precisa ser lido para se atingir o estágio de maravilhamento que um leitor observa diante das palavras adequadas e da narrativa harmoniosa... por isso, não me sinto mal em descrever aspectos aqui... em parte, porque quase ninguém tem paciência para ler nem o que digito, quem dirá o conto inteiro... para esses, é mera socialização ou especulação... para os demais, assim como eu... quase que um convite para buscar e realizar a leitura integral...

No conto um jovem casal, após retornar (literalmente e não metaforicamente!) da lua-de-mel resolve agradecer os presentes recebidos e dentre eles notam um envelope sem remetente e com uma breve descrição da cerimônia de casamento deles... ficam encantados pela gentileza e também maravilhados por ser um agradecimento a menos a ser feito... o envelope é guardado e a vida deles prossegue feliz... até que num certo dia a leitura é retomada e nos escritos dentro do tal envelope a vida evoluíra, mas de maneira nitidamente mais infeliz... ficam surpresos e apreensivos, mas gratos pela realidade ser bem diferente... num momento de grande felicidade, resolvem retomar a leitura e então surge a dúvida, se eles deviam agradecer pela hipótese de infelicidade não ter se concretizado, ou se eles devem temer estar vivendo uma grande ilusão... o tempo passa, e a vida segue seu curso... Até que Gordon (o marido) falece aos 36 anos... e a Belinda sem cicatrizes na vida e no rosto... diferentemente da Belinda do conto... se vê diante de uma questão:

A escolha de Belinda...


Ela levou, então, o envelope para baixo, para a sala de estar, onde a brasa de carvão queimava na lareira, porque Gordon amara o fogo. Ele dizia que dava vida à sala. Ela não gostava do fogo do carvão, mas o havia acendido aquela noite por rotina e por hábito e porque, se não o acendesse, seria admitir para si mesma, de modo absoluto, que ele jamais voltaria para casa.

Belinda fitou o fogo por algum tempo, pensando sobre o que possuía na vida e sobre o que tinha abandonado; e se seria pior amar alguém que já não estava lá, ou não amar alguém que estava.

E, no final, quase negligentemente, ela arremessou o envelope sobre as brasas, e o observou curvar-se, enegrecer e pegar fogo, vendo as chamas amarelas dançarem por entre as azuis.

Logo, o presente de casamento não era senão flocos negros de cinzas que bailavam sobre o ar quente e eram levadas, tal como uma carta de criança para o Papai Noel, pela chaminé acima e para fora, noite adentro.

Belinda recostou-se em sua cadeira, fechou os olhos e esperou que a cicatriz aflorasse em seu rosto.

(Fumaça e Espelhos – Contos e Ilusões – Neil Gaiman – Ed. Via Lettera – SP/2004- página 23)

2 comentários:

  1. Gostei do post.

    Uma feliz páscoa, com mtos chocolates.

    ps. voltei a escrever no blog.

    bjks

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  2. Oi Flavioca... tudo bem?
    Desculpe o atraso... a coisa tá complicada...rs
    Vi pelas imagens no orkut que sua Páscoa foi "recheada"..r.s
    Quanto ao Blog, bacana.... visitarei-a-a... Beijos!

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