domingo, março 28, 2010

Do extinto... trecho de conto de Livros dos Sonhos 2 (vide Gaiman)!

A filha do escritor, ou o segredo do assassino de tempo (Tad Williams)

Vamos fazer um filho.

Espere, não vire a página! Para aqueles de sensibilidade delicada, sei que isso parece atrevido, até dramaticamente grosseiro. Mas deixe-me explicar. É uma espécie de jogo.

Para começar, vou fingir que sou um escritor. Então, por favor, finja que é um leitor. Por favor. É importante deixar esses papéis claros. Você já encontrou o seu personagem? Você já - na linguagem da sala de aula de teatro - encontrou sua motivação? Bom. Podemos começar.

Espero que minha primeira frase não tenha chocado. (Bem, não é verdade. Queria, pelo menos, chamar sua atenção. A maioria dos bons romances começa assim. Estabilidade e confiança só devem ser somadas à surpresa inicial, posteriormente, e não o inverso. Essa é apenas a minha opinião. Tenho certeza que você tem a sua.) Eu quis dizer, é claro, que íamos fazer um filho imaginário,o filho de um escritor. Mas a insinuação de uma relação sexual inesperada (e certamente não desejada) entre você e eu, entre leitor e escritor, não foi, de forma alguma, ilegítima. Seja o escritor um homem ou uma mulher, há algo masculino na criação da história - o ato de lançar a semente, uma fome que resulta num breve espasmo de procriação. O leitor - mais uma vez, seu sexo real não importa - tem um papel mais feminino a desempenhar. Você deve receber o grão da reprodução e dar a ele um lugar fértil de repouso. Se isso não for desejado, e o mais importante, se não se realizar, então o grão se dissipa, e a união é infrutífera. Mas, caso ele tenha êxito, poderá se transformar em algo muito maior do que cada um dos pais.

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